sábado, 19 de maio de 2012

Para evitar tudo aquilo que me faz mau, faço silêncio,fico quieta. Respeitando a opinião dos outros, fecho a boca. Com a cabeça quente, perco a voz. Chateada, emudeço, que é pra não chorar. Triste, me calo por fora enquanto palestro por dentro. Se não sinto o que por mim sentem, não retribuo os dizeres, não minto ou falsifico intensidades. Se vinha voz se faz ausente, estranhe, pois em verdade, não nasci pra ser calada,nasci para falar e me expressar sem medo de críticas. Silêncio fora de hora se faz atípico para quem vive matraqueando, falando pelos cotovelos ou cantarolando. Porém, torno-me muda em alguns momentos e constato que o silêncio é bem-vindo sim, e faz até bem. Compartilho solidões comigo mesma, e aproveito um tempo, comigo mesmo para por em ordem a bagunçinha que eu costumo fazer dentro de mim.  Conversa demais traz fofoca, faz intriga; sabemos demais da vida alheia quando mal desvendamos a nós mesmos. Tem papo que não acrescenta, assunto que não vale o tempo; palavra que machuca muito, verdade que arde da boca pra fora ouvido pra dentro. Novidade de quem deve ficar no passado; comentário maldoso, palavra torta, incompreendida; que estas não cheguem aos meus ouvidos e tampouco eu as espalhe. Calada sim, pois dizer o que te machuca só porque acordei com a pá virada, não é justo. Silenciosa, pra velar a dorzinha aguda que fincou por dentro. Com sono, cansada, indisposta, quietinha. Muda, pra não deixar que minhas palavras estragassem o que ficou de nós; para não comprometer qualquer relacionamento futuro ou encontro casual no mercado; para não encabular a ambos com esse meu sentimentalismo que escapa pela boca. Para não finar nosso acordo de vez, emudeço; evitando estragar amizades com verdades que mais ferem do que mudam alguma coisa  certos defeitos podemos aceitar, assim como aceitam os nossos. Com os lábios unidos e ouvidos abertos, para absorver o saber dos outros e assentir com a cabeça quando concordar. Descobrir nas palavras alheias um conforto, conselho valiosos, histórias que sabem confortar. Quieta para ouvir sermão, mesmo quando a fera que adora revidar tenta se libertar do corpo; erro sim, e é bom ouvir e saber onde pequei, reconhecer-me errada e aceitar as tantas mancadas, deixar de lado a minha pretensão de ter sempre razão, dar a língua a torcer.Calada para não falar tudo o que o peito abafa, para não assustar desavisados e não acostumados a intensidade verborrágica que possuo; pra não falar tudo o que sinto, que costuma ser muito, e assim não acabar pondo medo em quem não entende que eu mais sinto do que penso e por isso falo na maior das ingenuidades.Muda, pois nem todos merecem minhas palavras, meus conselhos, avisos e carinho vocal. São poucos os dignos de minhas confissões, segredos e das tantas esquisitices que verbalmente deixo escapar. Quieta pra não falar e arrepender depois em situações que não possuem voltas, machucados que depois de feitos, se tornam cicatrizes. Sem deixar a fúria escapara pela boca e mexer os dedos, engulo. Pra não morrer pela boca e apanhar com o coração, fico quieta.

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